Política

Como Bolsonaro passou de proibido em quartéis a escolhido pelo Exército

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Na tribuna da Câmara dos Deputados, o parlamentar Jair Bolsonaro, já conhecido pela retórica incendiária, estava manso naquele 24 de setembro de 1991. “Jamais terei uma postura, em qualquer organização militar, de afronta a quem quer que seja -seja comandante, seja general, seja coronel ou até mesmo capitães”, discursou.

Bolsonaro nem tinha completado um ano de seu primeiro mandato de deputado federal. Lamentava-se sobre um informe confidencial do Comando de Operações Terrestres do Exército que disse ter recebido de “um companheiro de farda”.

O documento descrevia como o deputado andava, por meio de panfletos, “criticando a atual política salarial, os ministros militares e outros chefes, concitando uma tomada de posição individual e coletiva contrária à disciplina castrense”. E ratificava que Bolsonaro estava proibido de entrar em unidades militares.

“Sábado que vem, agora, há uma solenidade, por coincidência, na Brigada de Infantaria de Paraquedista, na qual tive o prazer de servir por quatro anos, e o convite está aberto a todos os paraquedistas”, relatou Bolsonaro.

Dirigindo-se ao colega Nilson Gibson, que presidia a Mesa, completou: “Então, pergunto a vossa excelência, companheiro mais antigo, de vários mandatos, como devo proceder: me acovardar, ficando aqui em Brasília, ou, como cidadão -não como deputado, mas como cidadão- ir a essa solenidade? E, em lá chegando, vou submeter-me a um interrogatório e ser expulso do quartel? Como devo proceder, sr. presidente?”

Bolsonaro fora proscrito pela cúpula do Exército quatro anos antes, por uma série de atos de indisciplina e quebra de hierarquia: insultou superiores, publicou um artigo na Veja reclamando dos soldos e revelou a uma repórter da revista um plano para explodir bombas em unidades militares.

Pelas transgressões, no início de 1988 foi julgado e condenado por um Conselho de Justificação, tribunal administrativo militar, segundo o qual o então capitão mentiu “ao longo de todo o processo” e teve “comportamento aético e incompatível com o pundonor militar e o decoro da classe, ao passar à imprensa informações sobre sua instituição”.

Bolsonaro foi salvo meses depois pelo STM (Superior Tribunal Militar), que o absolveu a partir de uma interpretação exótica sobre os laudos grafotécnicos usados como provas para condená-lo antes.

Não chegou a ser expulso da corporação, como ainda hoje muita gente pensa, mas, por lei, seguiu automaticamente para a reserva remunerada quando foi eleito vereador pelo Rio de Janeiro naquele mesmo 1988.

Conforme revela o informe lido por ele na tribuna da Câmara três anos depois, continuava barrado em instalações do Exército.

Se sua nascente base eleitoral era composta por militares de baixa patente (praças, suboficiais e pensionistas), para a cúpula da força terrestre ele representava um estorvo, como era descrito e representado em reportagens e charges.

Certa feita, em 1992, ao tentar entrar na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ), para assistir a uma formatura de cadetes, Bolsonaro teve seu carro rebocado do portão de entrada da escola de formação de oficiais, a mando do então ministro do Exército, Carlos Tinoco.

*FOLHAPRESS

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