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Explosão de violência no Equador é primeiro teste de Daniel Noboa na Presidência

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Em menos de oito meses, Daniel Noboa emergiu do desconhecido mundo corporativo, sentou-se na cadeira presidencial e se deparou com o primeiro grande teste de seu governo no Equador, vendo policiais e agentes penitenciários sequestrados, carros incendiados e bombas explodidas pelas ruas do país.

O líder de 36 anos iniciou a semana repetindo medidas de seus antecessores para tentar conter a expansão de organizações criminosas que tinham se mostrado inócuas, como declarar estado de exceção. Diante do recrudescimento dos ataques, porém, subiu o tom e fez ressoar novamente o nome do presidente salvadorenho Nayib Bukele.

Vídeos de grandes operativos militares e dezenas de presos seminus deitados no chão sob trilhas sonoras de filmes de ação são o paralelo mais visível com seu homólogo de El Salvador, famoso por ter conseguido enfraquecer as facções ao custo de infrações de direitos humanos e restrição a liberdades fundamentais de sua própria população.

Nos últimos dias, Noboa declarou “conflito armado interno” no país, dando mais poderes às Forças Armadas; classificou mais de 20 grupos como terroristas, convertendo-os em “objetivo militar”; e disse que começará a deportar presos estrangeiros, colombianos, peruanos e venezuelanos em sua maioria.

Também reforçou suas promessas de construir megapresídios e afirmou que nesta quinta (11) seu governo anunciará a localização das novas unidades. “Não vamos ceder”, disse ele sobre a exigência feita pelas organizações criminosas de que o governo não concretize as obras nem transfira seus líderes.

Enquanto isso, Noboa busca o respaldo dos equatorianos através de uma consulta popular, ainda sem data para acontecer. Enviou para a avaliação da Corte Constitucional um total de 20 perguntas, incluindo se a população concorda com o uso das Forças Armadas em ações contra o crime organizado e com o perdão temporário a agentes de segurança até sua eventual condenação.

“Há uma boa dose de demagogia e pouca ação concreta”, critica Fredy Rivera, que atuou como subsecretário de segurança interna na gestão de Rafael Correa (2008-2010) e hoje trabalha como analista de inteligência e segurança ligado à Flacso (Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais).

“As prisões demorariam meses para ficar prontas, como o próprio presidente já disse, e a consulta popular tem uma série de temas que poderiam ser solucionados facilmente por mudanças legislativas, além de trazer perguntas contraditórias”, diz ele, que também critica a falta de um plano concreto do novo governo.

Noboa ainda deve o detalhamento de um tal “plano Fênix” que anunciou após assumir a Presidência, que incluiria a criação de uma central de inteligência para prevenir crimes, responder a emergências e garantir a segurança dos bairros, além da construção seis prisões de segurança máxima.

Até agora, de forma geral, ele tem conseguido um respaldo tanto da opinião pública como das demais forças políticas do país e da comunidade internacional.

“Sendo realista, eventuais excessos das forças de segurança nesse momento não preocupam a população. Existe uma discussão sobre direitos humanos, mas ela se limita a meios acadêmicos e organizações, ficou em segundo plano diante da ameaça latente que temos”, opina Rivera.

Para a cientista política Ingrid Ríos, professora da Universidade Casa Grande -que fica na cidade litorânea de Guayaquil, um dos epicentros da crise de segurança no Equador- , o apoio é positivo num contexto que exige união, mas também pode ser conjuntural.

“Se o presidente não convencer e visibilizar certos resultados de sua gestão, esse apoio e popularidade estarão em risco”, diz ela, acrescentando que Noboa já recebeu críticas por seu silêncio nos primeiros momentos dos ataques que causaram caos e pânico em várias regiões do país a partir da madrugada de terça (9).

De perfil discreto, ele publicou o decreto de “conflito interno armado” em suas redes sociais, mas quem anunciou a medida em vídeo foi o chefe da Forças Armadas, Jaime Vela Erazo. Sua única aparição pública foi uma entrevista à rádio local Canela na tarde desta quarta (10), na qual afirmou que “o país está em guerra”.

“Uma parcela da população, apesar de não ser maioria, também vê com ceticismo todo esse poder que está sendo dado às Forças Armadas e acha que o governo não está olhando para o problema de forma complexa”, diz Ríos -jovens de locais pobres são a maioria dos membros dessas organizações criminosas.

“O mais velho dos detidos nesta terça tinha 25 anos e dois eram menores de idade. A força não será suficiente para frear o problema de forma mais profunda, e a cidadania vai pedir mais ações nesse sentido”, prossegue ela, lembrando as questões de alto desemprego e emigração do Equador.

O toque de recolher determinado por Noboa, que proíbe que os equatorianos saiam de casa das 23h às 5h pelos próximos dois meses, também deve ser mais um duro baque na já estancada economia do país.

É mais uma má notícia para um presidente liberal que foi eleito prometendo atrair investimentos estrangeiros e criar postos de trabalho -e que só tem mais um ano e quatro meses para mostrar a que veio.

Seu mandato curto se deve a outra crise que o país somou no último ano, a política. O pleito em que Noboa foi eleito foi, afinal, convocado por seu antecessor Guillerme Lasso depois que o ex-presidente dissolveu o Congresso para escapar de uma ameaça de impeachment

*FOLHAPRESS

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