SaúdeSilene Santos

HIV: injeção preventiva aprovada pela Anvisa não é uma vacina. Entenda

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Na última semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou no Diário Oficial da União o aval para registro de novo medicamento do Cabotegravir, uma injeção aplicada a cada dois meses para prevenir a infecção pelo HIV. O fármaco, desenvolvido pela farmacêutica GSK, tem o nome comercial de Apretude.

No entanto, ainda que seja uma injeção e atue de forma preventiva, o Cabotegravir não é considerado uma vacina para o HIV – feito ainda não alcançado pelos cientistas. O medicamento, na realidade, é uma profilaxia pré-exposição ao vírus (PrEP).

A diferença é que uma vacina induz uma resposta do sistema imunológico, como por meio da produção de anticorpos ou de células de defesa. Para isso são utilizados fragmentos enfraquecidos ou inativados de vírus e bactérias, ou partículas que simulem esses agentes infecciosos para que o sistema imune os reconheça.

Com isso, o imunizante faz o organismo agir e se preparar para, no momento em que o corpo entrar em contato com determinado patógeno, conseguir combatê-lo. Porém, no caso da PrEP, a substância utilizada não induz uma resposta ativa do sistema imunológico.

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Na realidade, ela é um medicamento antiviral que bloqueia os “caminhos” que o HIV utiliza para causar a infecção. Mas, para isso, é necessário que a pessoa esteja sempre recebendo a aplicação a cada dois meses em um esquema contínuo, para que o antiviral permaneça em circulação no organismo.

Desse modo, caso a administração da PrEP seja interrompida, a proteção desaparece. Já as vacinas, por outro lado, podem até demandar novas doses para elevar a resposta do sistema imune, mas criam uma proteção mais duradoura, já que é promovida pelo próprio corpo.

Prevenção já existe por comprimidos

Embora o Cabotegravir seja o primeiro medicamento injetável para prevenir a infecção pelo HIV, no Brasil, desde 2017, a PrEP já é uma estratégia oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de comprimidos diários.

A terapia é destinada a determinados grupos considerados de maior risco de exposição ao HIV, como homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo e pessoas que não vivem com o vírus, mas estão em um relacionamento sorodiscordante (em que a outra pessoa vive com o HIV).

O comprimido, que deve ser tomado diariamente para ter efeito, é uma combinação de dois antirretrovirais (tenofovir + emtricitabina) que bloqueiam os “caminhos” que o HIV utiliza para infectar o organismo. Com isso, caso o indivíduo seja exposto ao vírus, o risco de contaminação é mais de 90% menor.

Segundo o Painel PrEP, do Ministério da Saúde, desde a implementação, até abril deste ano, 81.824 brasileiros acessaram a terapia no país – 89% pela rede pública. No entanto, mais de 22 mil deixaram de aderir à estratégia.

Uma das maiores dificuldades para o sucesso da profilaxia é justamente pelo fato de o esquema envolver comprimidos diários, o que leva muitas pessoas a desistirem a longo prazo.

Por isso, pesquisadores têm investido em novos fármacos capazes de aumentar a aderência do público-alvo, como os de longa duração, que podem ser aplicados em intervalos maiores, ou em formatos de implantes, por exemplo.

O que é o Apretude?

Um dos mais avançados métodos de prevenção do HIV de longa duração é o Cabotegravir, que desde julho do ano passado é indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma alternativa mais eficaz da PrEP. Nações como Estados Unidos, Austrália e Zimbabué deram o aval recentemente ao medicamento.

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Nos estudos clínicos, o Cabotegravir apresentou uma eficácia 69% maior do que os comprimidos diários para evitar a infecção pelo HIV. Ele funciona por meio de duas aplicações mensais no início, e depois uma a cada dois meses – reduzindo a frequência de 365 vezes ao ano, com os comprimidos, para apenas seis. A injeção é feita nos glúteos.

Especialistas afirmam que essa eficácia superior observada nos estudos pode ser justamente devido à maior facilidade na adesão, já que na estratégia atual é preciso que o indivíduo tenha o comprometimento diário de tomar o comprimido para garantir a proteção.

Injeção para prevenir o HIV já está no SUS?

Embora a Anvisa tenha concedido o registro de novo medicamento para o Cabotegravir injetável, isso não quer dizer que ele será imediatamente oferecido na rede pública.

Para isso, ainda é necessário uma avaliação do Ministério da Saúde para decidir se irá incorporar ou não o novo fármaco no SUS, e desenhar as regras para isso. Também não há previsão para ele ser comercializado na rede privada.

Porém, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já havia anunciado no ano passado que iria implementar um projeto piloto com a PrEP injetável no Brasil, uma iniciativa financiada pela Unitaid, agência global de saúde ligada à OMS. A Fiocruz é quem produz hoje a versão em comprimidos da profilaxia distribuída nos postos de saúde do país.

Casos de HIV estão em alta no Brasil?

O avanço de novas formas de prevenir a infecção pelo HIV é importante no momento em que o Brasil registra um avanço no número de novas contaminações. De acordo com a edição mais recente do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids, entre 2011 e 2021 o número de diagnósticos saltou 198% no país, passando de 13,7 mil ao ano para 40,9 mil.

Segundo o Ministério da Saúde, um milhão de brasileiros vivem com o vírus. No mundo, o programa para aids das Nações Unidas (Unaids) estima um total de 38,4 milhões de indivíduos.

Por outro lado, graças à terapia antirretroviral (TARV), os casos da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) caíram 18,5% no mesmo período no Brasil, passando de 43,2 mil novas notificações, em 2011, para 35,2 mil, em 2021. Isso acontece porque os medicamentos atuais conseguem controlar a infecção do HIV, impedindo a evolução para a sua forma grave, que é a aids.

*AGÊNCIA AIDS

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